Fértil imaginação: o olhar incrédulo "alienígena" no século XXI



Eu e minha fértil imaginação!!! De vez em quando, diante de certas mediocridades do ser humano no mundo contemporâneo, me pego divagando: “Isso deve soar deveras estranho aos olhos de um extraterrestre, caso algum esteja nos visitando”... e me vejo imaginando a inusitada cena!!!

E parece que o cinema já percebeu isso também, ao retratar pessoas com esse tipo de devaneio e sensibilidade, como no belo longa-metragem francês “O fabuloso destino de Amélie Poulain”, e agora no recente (e também belo) curta-metragem do argentino Carlos Lascano, intitulado “Lila”.

Identifiquei-me na hora com a protagonista Lila, mas confesso que minha imaginação não é assim tão altruísta como a da personagem, mas me vi imediatamente na cena em que Lila “deleta” uma mulher ordinária, tornando-a “invisível” aos seus olhos... é o que mais faço no meu dia a dia... rsrsrs... simplesmente ignoro certas pessoas indesejáveis, em prol do meu bem estar mental e social.


Da civilidade à barbárie!!! Assim pensaria um alienígena!!! Diante de mais um novo ataque de intolerância nos EUA (agora contra uma boate gay) se faz urgente levantar a questão do (des)armamento na América e, claro, também aqui no Brasil. E, logo a seguir, tivemos a morte brutal de uma deputada britânica, que foi assassinada apenas por conta de sua ideologia não aceita por indivíduos ultra extremistas de direita.

Desarmamento é fundamental (e vital) também por aqui no Brasil, porque armar uma população como a nossa (muito semelhante à estadunidense), onde a desigualdade social impera (além do racismo, machismo, apologia a estupro e violência contra mulheres e intolerância de gêneros), é aumentar (e muito) a violência que, apesar da comparação pertinente (tanto aqui como acolá, somos 99% do povo contra 1% de multimilionários nada democráticos), ainda é muito mais séria no Brasil por ser um país emergente com uma disparidade social muito maior, em comparação ao “primeiro mundo” que sempre pertenceram os EUA.

Se, lá na América, não há controle rígido na venda das armas (que são adquiridas facilmente por qualquer um, sem nenhum controle psicológico/emocional para se portar uma arma) imagina aqui no Brasil!!!  E já existem pesquisas, mais do que confirmadas por aqui, que nem nossos policiais civis e militares estão preparados psicologicamente para portar armas (como um pequeno exemplo, há pouco tempo um policial militar matou um policial civil numa mera e ridícula briga de trânsito) e, inclusive, sabe-se que muitos desses policiais provêm da mesma favela que o bandido, e muitos entram nas corporações policiais imbuídos do espírito de “justiça com as próprias mãos”. 

E o documentário “Tiros em Columbine (Bowling for Columbine”), do diretor estadunidense Michael Moore, realizado em 2002 (sobre o massacre na escola americana de Columbine), desde então, denuncia a macabra política armamentista dos EUA. O cineasta é considerado,  por ridículos ultra extremistas como um “cidadão anti-americano”, apenas por denunciar a intolerância e a opulência dos governos do seu país contra as demais nações, em particular os países do terceiro mundo... o documentário continua tão atual como nunca...... um dia, “o feitiço sempre vira contra o feiticeiro”.




E de novo, como sempre, enquanto eu revia o documentário “She’s beautiful when she’s angry” (“Ela é linda quando está zangada”) imediatamente vi ETs ao meu lado, mimetizando um sinal de incredulidade, diante do informe, no tal documentário, de que “há menos de um século a mulher adquiriu o direito de mandar no seu próprio corpo”, e olho para os ETs que, novamente, me interrogam desapontados: “Como assim?? O planeta Terra tem bilhões de anos, e a civilização de vocês já está aí há mais de dois mil anos, e vocês mulheres só mandam nos seus corpos há apenas 40-80 anos???

Envergonhada, “escondi do conhecimento do ET” que, no Brasil, ainda nem isso temos, uma vez que ainda o machismo nos diz o que devemos vestir e como nos comportarmos (vide a recente e ridícula reportagem “Bela, recatada e do lar” da conservadora revista Veja, e as explicações machistas esdrúxulas sobre as roupas “provocantes” das vítimas de estupro).

Omiti também do alienígena a informação de que, por aqui, no Brasil, legalmente é considerado crime o aborto em sua maioria dos casos, mas que, independente disso, hipocritamente pratica-se o ato, com diferença mordaz entre pobres e ricos (não, não posso deixar o ET tomar ciência desse escárnio, que só penaliza os pobres por falta de assistência durante o aborto, enquanto os ricos também o praticam sem nenhuma punição).

E muito menos saberia explicar outro despropósito para o tal ET, de que nós mulheres temos salário menor que o dos homens nas mesmas profissões, apenas “porque as mulheres engravidam”, segundo declarações recentes do macabro deputado fascista e misógino Bolsonaro (óbvio que quando ele percebe que vai perder voto, ele muda o discurso, dizendo que “não foi bem isso que quis dizer”).

E o mesmo votou contra os direitos trabalhistas das empregadas domésticas, alegando “desemprego em massa” caso fosse dado os tais direitos a essa infeliz categoria profissional (que realmente ainda perdura no país como um dos maiores empregos das mulheres, e só vamos acabar com ela, ou pelo menos diminuir o número de domésticas, quando diminuirmos a desigualdade social, e as filhas e netas e bisnetas das nossas empregadas domésticas tiverem chance de ser algo mais do que empregada doméstica, mas enquanto isso não acontece, a profissão deve ser sim regulamentada como qualquer outra). 

E o alienígena deve estar se perguntando: “esse tal de Bolsonaro é um idiota ou o quê??!!”. E eu imediatamente respondo ao ET: “nada idiota, ele é apenas um fascista interessado em manter, na sua casa, serviçais semi-escravizados a preço de banana, apenas isso” (e quem vota nele, pensa escrotamente igualzinho a ele).

O documentário, recheado de belas músicas de Janis Joplin e outros artistas revolucionários dos anos 60, traz de volta as mulheres (hoje ilustres senhoras) que tiveram à frente dos vários movimentos feministas dos anos 60-70, que fizeram com que, hoje, nós mulheres tivéssemos o direito de trabalhar fora (as mulheres até tinham diplomas, mas “apenas para arranjar e/ou esperar marido”), de andar na rua e frequentar bares e restaurantes desacompanhadas (sem sermos molestadas), e de discutir sobre gravidez, aborto, pílula anticoncepcional e outros assuntos femininos.




A conquista do direito ao voto feminino pelas sufragistas, no início do século, foi muito mais violenta e abriu as portas para as lutas das próximas gerações, mas muitas mulheres de hoje, totalmente “sem noção”, renegam (ou simplesmente desconhecem) a importância desses movimentos feministas na vida delas (uma vez que já nasceram com essas conquistas em curso), e desdenham quando ainda hoje as feministas continuam brigando por direitos iguais (inclusive o delas), direitos que todo ser humano, independente do gênero, deveria usufruir.

E o que diria o tal alienígena se voltasse seu olhar para o tal deputado machista, misógino e homofóbico “Bostanaro”, de ultra extremíssima direita? Ficaria abobalhado, abestado mesmo, se perguntando como um sujeitinho desses consegue se manter no poder, uma vez que ele é um desses indivíduos que se tornam políticos para apenas advogar em causa própria...

O histórico dele no exército confirma uma vida militar medíocre “dedicada a melhorar apenas o seu próprio salário”, nem que fosse através de indisciplinas e conspirações (o próprio contou seus planos macabros de “colocar bombas nos reservatórios de água da cidade maravilhosa”, na revista Veja, nos idos anos 90), e depois, para não ser expulso do exército, desmentiu tudo, e foi então reformado (e ganha soldo por conta).

E não satisfeito com sua “historinha de m....” no exército (que eu saiba, ídolos e mitos têm passado heroico, e não de “meliante uniformizado” como é o caso dele), “Boçalnaro” foi para a política “engrossar o salário de militar reformado” (como o próprio fdp descaradamente alegou na época), e até os dias de hoje já se filiou a pelo menos sete partidos (assim como muda de discurso a todo momento, com o claro propósito de angariar votos), estando há 25 anos ininterruptos ganhando às nossas custas (como deputado) para não fazer absolutamente nada... 

A não ser incitar violência contra minorias, fazer apologia ao machismo e, consequentemente, ao estupro, alegar ser favorável a tortura, e por aí vai, mais hitleriano impossível, não tendo aprovado nenhuma lei em prol do povo, a não ser aquele “papelzinho que recebemos, como recibo, ao votarmos”(eu sabia que tinha um motivo para eu detestar aquele maldito “micro papelzinho” impossível de ser guardado).

E Boçalnaro adora “vomitar” que é “seguidor dos ensinamentos da Bíblia” e a favor “da família e dos bons costumes”, mas só no que lhe convém, uma vez que, católico e divorciado, por conveniência se casou pela terceira vez na igreja (o que, segundo a Bíblia, é proibido) agora protestante, com o aval e a “benção” de outro macabro, o pastor Malafaia, mas quando se trata dos homossexuais cita o livro sagrado como exemplo. Haja hipocrisia!!!! (E o ET novamente me interroga abismado: “mas Jesus não amava a todos, mesmo e principalmente os possíveis errantes??!!”).




“Jesus não ama quem é babaca e retuíta Bolsonaro” (uahuahuah)... E, por falar no tal Bostanaro, me veio à lembrança o documentário “Gaycation”, realizado pela bela atriz, agora assumidamente homossexual, a canadense Ellen Page, que rodou vários países dando voz às comunidades LGBTs, e entrevistou vários políticos homofóbicos pelo mundo, e (coitada) teve o desprazer de se deparar com o Bolsonaro, de onde saiu pasma da entrevista com o coisa ruim, diante de tanta sordidez e de falta de humanidade vinda de uma só pessoa no Brasil. Lamentável esse nosso escroto representante (meu não, desconjuro, “vade retro, gabiroto”).




Enquanto um escroto imbecil como esse Bostanaro professa tais barbaridades, o movimento mundial “He for She” promovido pela ONU tem total aceitação dos verdadeiros homens com H, inclusive aqui no Brasil, com ampla divulgação pelo canal GNT e celebridades afins, todos imbuídos no sentimento nobre de mudanças sociais urgentes para por fim à violência contra as mulheres, ao machismo, a cultura do estupro e a intolerância de gêneros e de raças.

O machismo é uma grande cegueira que impede que o ser humano do sexo masculino usufrua de um monte de características humanas genuínas e tolhe o ser humano do sexo feminino de um monte de características naturais e sociais.



Gente ordinária, xenófoba, machista, misógina, homofóbica e escrota e, consequentemente, anti-cristã como Bolsonaro (e na mesma lista está também o Silas Malafaia, o Marco Feliciano, e o Donald Trump na América) sempre há de existir nesse nosso mundo cão, mas o que me incomoda mesmo são as pessoas que votam nesse tipo de gentalha, se mostrando tão execrável quanto eles.

O movimento “Hope for our daughters” (ao pé da letra, “Esperança para as nossas filhas”) batalha para mudar essa nossa triste realidade machista e misógina aos olhos de um alienígena (e das futuras gerações de nossos filhos, netos e bisnetos) que, por acaso, esteja a visitar o nosso pequeno ponto pálido azul chamado planeta Terra.



E voltando ao remoto e longínquo “sonho americano”, os 99% dos americanos (e também os londrinos, os parisienses, os gregos, e também nós brasileiros) hoje alertas contra os interesses sempre escusos dos 1% multimilionários (“We are  the 99%”, “Occupy Wall Street” desde 2011), deixaram de se iludir com um futuro promissor e partiram para um corpo a corpo desestruturado contra as instituições e, infelizmente, uns contra os outros que revertem contra si mesmos.

Se, num país como os EUA com a democracia sedimentada há séculos, o capitalismo chegou a esse nível, onde a Constituição Americana é “sinônimo de democracia e liberdade geral e irrestrita e direito igual para todos” (assim se “prega” por lá), imagina por aqui onde a corrupção não é punida (nos EUA a corrupção é apenas mais bem freada, por conta da punição); e a nossa Constituição é extremamente elitista (o “direito à propriedade” remonta da era da colonização) e, mesmo assim, apenas muitas vezes “um papel cheio de leis não cumpridas” (a reforma agrária, por exemplo) na nossa frágil e jovem democracia. 

Em seu livro “O olho da barbárie’, o professor de filosofia (da UERJ e pós doutorado da USP) Marildo Menegat comenta: “o neoliberalismo, forma hegemônica atual da nova fase do capitalismo, marcada pela terceira revolução tecnocientífica, mostra ser mais violento e destruidor das formas de sociabilidade que em suas versões anteriores, desprezando valores éticos como a dignidade, a vida e os direitos humanos como há muito não se via; o século XXI tem sido assim o da atualidade da barbárie”.

Já o conceituadíssimo “pai da linguística moderna”, o professor e filósofo estadunidense Noam Chomsky, no documentário “Réquiem para o sonho americano” (“Requiem for the american dream”) traça os “dez princípios atuais da concentração de riqueza e poder”, sendo o primeiro deles a “redução da democracia”, reprimindo a pressão vinda de baixo por mais liberdade e voz do povo, através de esforços por controle e dominação pela elite vinda de cima (numa total inversão de valores, uma vez que só a redução da desigualdade social com fortalecimento da democracia conduziria ao sempre tão almejado “american dream” e, igualmente, ao nosso “brazilian dream”).

Chomsky mostra como é vital para a democracia o povo nas ruas em uníssono (e não uns contra os outros, como tem acontecido nas diversas polarizações e intolerâncias ideológicas por aqui e também pelo mundo inteiro) reivindicando de maneira organizada, e consciente dos seus direitos, para que prevaleça a voz do povo e não a primazia da elite monopolista e corporativista.

O intelectual Chomsky também imagina essa visão incrédula alienígena ao observar a banalização do ser humano diante da imensa desigualdade social (que gera injustiças irreparáveis, tendo de um lado fome e pobreza extrema, e do outro desperdício de alimentos e obesidade) e a ganância desenfreada por dinheiro e poder que torna o ser humano cada vez mais fútil, supérfluo, insensível e desumano uns com os outros. E, não me espantaria, se o alienígena me perguntasse: “afinal, quem é o ET por aqui??!!”



Postado por *Rosemery Nunes ("Adorável anarquista")

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem